"AGREDIDO" VIOLENTAMENTE COM AS PLACAS

UM JOGO MEMORÁVEL

No decorrer da época 2000/2001, estávamos a poucas horas de um super decisivo jogo de juniores. Um Académica x Leixões. Reuniamo-nos como sempre ás 13h30 no “nosso” velhinho Sta Cruz. O ambiente entre nós era de grande confiança, mas ao mesmo tempo de grande expectativa, na medida em que o Leixões tinha um colectivo fortíssimo. Não estou de momento recordado se seria a ultima ou a penúltima jornada da 1ª fase. O que sei é que se ganhássemos ficaríamos automaticamente apurados para a 2ª fase sem necessitarmos de disputar uma liguilha. Os meus atletas sabem que raramente falava á equipa nos dias do jogos. Apenas acertava uns pormenores. Por dois motivos muito simples: O primeiro porque entendo que 24 horas antes da competição estão muito mais concentrados no discurso e fundamentalmente porque o atleta não deve desfazer a dúvida se vai ou não jogar 2 horas antes de um jogo. Já deve dormir suficientemente descansado e acordar concentrado no dia da competição. Contudo, actualmente como raramente treino ao Sábado, falo com mais frequência no dia do jogo, embora o atleta perceba durante a semana as nossas apostas. Nesse dia guardei propositadamente a palestra para o dia do jogo. Assumi esse risco. Sabemos, para quem anda nestas coisas, o que significa mudar determinados hábitos num grupo de trabalho. Mas fi-lo conscientemente. Pretendi dessa forma, motivá-los ainda mais e “entrar” naquelas cabeças apenas uma hora antes do decisivo jogo. A primeira vitória estava alcançada. Não se ouvia uma mosca no balneário enquanto falei. Lembro-me de lhes ter colocado um pouco de pressão e de lhes ter dito que a história faz-se dos que ganham e não dos que lutam apenas por ganhar. Acertámos a estratégia e percebi rapidamente que não era necessário dizer muito mais! Há momentos em que não temos dúvidas. Este foi um deles! Entrámos para o aquecimento e começámos a perceber que o jogo iria ter mais espectadores do que em qualquer outro jogo. Estou á porta do balneário e após ter terminado o aquecimento o Miguel Marques passou por mim e disse: “mister vamos comê-los”. Logo de seguida outro jogador (Penela ?) disse-me:” mister já não é mais preciso, já pode ir para casa”. Fiquei super tranquilo. Apesar de sermos uma autentica família, faltava jogar os noventa minutos! Meus amigos aos 30 minutos de jogo já ganhávamos 3-0. Eu nem queria acreditar no que estava a acontecer! Foi uma primeira parte de sonho. Chegados ao intervalo, cabia-me travar a euforia. Lembro-me de lhes ter dito apenas o seguinte: “Depois desta exibição espantosa, elevámos as expectativas para a 2ª parte e devíamos manter o mesmo ritmo e a mesma ambição até ao fim. O nosso sonho não se esgota em 45 minutos. Cuidado com a reação do adversário!”Do fundo do balneário saiu uma voz que disse:”malta menos de seis é derrota”!Calei-me, virei costas e desci as escadas do Sta Cruz ainda mais confiante!Começa a segunda parte e o campo começou a ficar inclinado. Até que num ápice o Leixões reduz para 3-2. A arbitragem começou a condicionar os nossos jogadores, com ameaças e a distribuir cartões amarelos a torto e a direito. Começaram a passar os fora de jogo(quem conhece o Sta Cruz sabe que um dos fiscais de linha actuava junto do nosso banco) bem como faltas sistematicamente contra nós e vários pontapes de baliza a nosso favor, transformados em cantos.Virei-me para o nosso director, Manel Teixeira, e disse-lhe: Estamos lixados este gajo (árbitro) vai-nos entalar. “Vê lá se fazes alguma coisa que eu venho de um castigo.”O santo do Manel, que achava sempre que os árbitros eram sempre sérios, respondeu-me: “Calma Jota (era assim que ele carinhosamente me tratava) que ainda vamos cilindrar”. Ao que respondi: “Não sejas tótó”. Muito pouco tempo depois , já estávamos a jogar com dez. Pedi-lhe para fazer uma substituição. Nesse preciso momento, aleija-se um jogador (o que não ia sair) e de repente tive que alterar a substituição. Ao correr para ele, para alterar o numero da placa, o grande Manel, não me viu e ao levantá-la mandou-me estrondosamente com ela na cabeça. Por momentos perdi os sentidos e o enf. Victor Guimarães teve que me deitar no banco com o jogo a decorrer. Recuperei os sentidos e o Victor disse-me :” Sentes-te bem?” Respondi: “Estou como o aço”. “Então senta-te e tem juízo”. Dez contra onze e com uma arbitragem vergonhosa, virei-me para o fiscal de linha e perguntei-lhe: “O seu colega é sócio do Leixões”? O rapazinho chamou o árbitro e disse-lhe mesmo á minha frente:Expulsa o treinador da Académica porque te chamou ladrão”. Nem queria acreditar no que estava a ouvir! Lá vim eu para a bancada com gelo na cabeça e com um hematoma de todo o tamanho.Volvidos poucos minutos, o árbitro, assinalou um pénalti muito duvidoso a nosso favor. Aumentámos a vantagem para 4-2 e o jogo terminou poucos minutos depois. Esperei pelo trio de arbitragem para perguntar ao fiscal de linha porque tinha mentido ao chefe de equipa. Ao que ele respondeu:” mister se eu não lhe dissesse que você lhe tinha chamado ladrão, ele apenas o advertia e eu já estava farto do ouvir”! Disse-lhe então: “espero que tenha a coragem de escrever no relatório apenas o que eu lhe perguntei”! Vá descansado disse o árbitro! Até hoje ainda estou á espera desse castigo! Quando entrei no balneário o jogador que me tinha dito antes do jogo começar que já podia ir para casa , disse-me :Mister, aqui no Sta Cruz, “morrem todos”!Nesse ano só me lembro mesmo de termos perdido uma vez em casa.Reconheço hoje que provoquei a expulsão para tentar-mos criar um clima mais complicado para a parte final do jogo.Desculpem –me se errei !
ABRAÇO A TODOS.