Brilhante

Há comentários que pela sua idiossincrasia, pela sua qualidade literária e acima de tudo, pela sua veracidade que merecem elevar-se a post. Este, talvez seja ( na minha opinião) o melhor comentário jamais escrito neste blog. Devo dizer que não me surpreende, pois apesar de não conhecer o autor, os seus escritos são sempre de uma clareza enorme, mesmo que nem sempre esteja de acordo com o que escrevemos.
Aqui vai com a devida vénia:

"Tudo estava a correr bem...", pensa MPS pela enésima vez.
"Eu tinha os meios, na forma dos servidores de internet em casa e no emprego.Eu tinha as opiniões, sempre tão magníficas.Eu tinha a inteligência e estava disposto a partilhá-la, de forma magnânima, pelos meus educandos.Eu tinha o tom paternalista e demagógico, tão necessário nestas ocasiões. Faltava apenas amplificar a um patamar superior de legitimidade e de importância.", repetia ele, pensando em como é bom ser-se ouvido e como é bom ser-se importante."Agora sim, iria mostrar ao meu patrão aquilo de era feito e o fruto de tanto tempo perdido.Sim, porque agora eu seria respeitado e admirado!"
"fvab parecia-me um bom nome.Nestas coisas de múltiplas personalidades nos blogues, temos de ter um bom nome.Algo que inspire algum respeito e que evite qualquer referência ou ligação a outras identidades paralelas.Tudo estava perfeito.Era uma brincadeira de crianças e tinha as proporções desejadas.Eu era um mestre da manipulação esquizofrénica.Eu tinha as opiniões e uma bondosa condescêcia em partilhá-las.Os meus psedónimos eram a caixa de ressonância perfeita. Esse MJC é um tótó!", pensava MPS, sem nunca ter consciência que a vertigem do protagonismo iria pagar o seu tributo.
"Mas eu tinha de cometer um erro de principiante.Apenas um erro fatal.Tinha deixado a minha assinatura noutra personagem.Talvez ninguém reparasse.Mas era tarde.As cortinas correram, as máscaras caíram.Fim do acto?Não, temos sempre a fuga para frente", pensava MPS lembrando-se de Pedro Santos e de como na angústia é sempre bom terem-se amigos oprimidos.
"Não irei cair no ridículo.Teria de simular um diálogo entre dois dos seus pseudónimos, negando a evidência do seu delito.No entanto, a esquizofrenia tinha assumido proporções desmesuradas.A voracidade do narcisismo iria pagar o seu preço.Como iria, agora, acusar os outros de cobardia se não assumia os meu erros?", reflectia MPS consigo próprio, recordando-se de um tempo em que tudo era mais simples, tudo era mais definitivo, tudo era mais mentira.
"Tudo estava a correr bem.Eu era admirado, eu era reconhecido, eu era respeitado", pensava MPS.Tinha escondido a sua mundana mediocridade nas suas múltiplas personalidades e isso chegava-lhe.Ali, naqueles blogues, ele sentia-se especial.
"Tudo estava a correr bem.Tudo estava a correr bem, até conhecer-te a ti, Vaidade!"
Kamane | 08.22.06 - 7:39 am | #


Parabéns Kamane