"Pardalitos do Choupal"

Associação Académica de Coimbra

Vitor Santos,jornalista d' A Bola já falecido,foi o primeiro a chamar a Académica "Pardalitos do Choupal", em crónica ao jogo da vitória sobre o Benfica por 3 a 1 na época de 1961/1962

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Estádio Cidade de Coimbra

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Inauguração: 29-10-2003
Lotação: 30000


Ano da fundação: 03-11-1887
Rua Infanta D. Maria, 23 - 3030-330
Nº de sócios: 10336 (em 9/7/2007)
Internet: www.academica.oaf.pt

 

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sexta-feira, 25 de maio de 2007

Manuel Machado em entrevista ao Diário de Coimbra: "Vir para a Académica foi uma aposta de risco"


A vinda para a Académica foi, para Manuel Machado «uma aposta de risco», atendendo ao passado recente do clube. Hoje percebe melhor os motivos que não deixaram a Briosa voar mais alto e, relativamente, à época finda, aponta a exagerada remodelação (18 jogadores), a chegada a conta-gotas dos reforços e as lesões, para justificar um resultado aquém do esperado. Resolveu continuar porque acredita nas pessoas que estão à frente do clube e confia que os erros não se vão repetir: não quer mais do que 8 ou 9 caras novas e todos aptos desde o início dos trabalhos. O técnico explica as suas recentes críticas à arbitragem, mas considera que há problemas maiores no futebol português como a redução do número de clubes, que não trouxe nada de novo e só contribuiu para a desmotivação dos jogadores. Para si a Taça da Liga não passa de um remendo…

Diário de Coimbra – Se antes do primeiro jogo, lhe dissessem que iria garantir a manutenção a uma jornada do fim, teria ficado satisfeito?
Manuel Machado – Não, a perspectiva era de fazermos melhor, claramente. Eu disse, no princípio, que o objectivo nesta temporada, embora o tivessem confundido com um outro maior que era participar numa prova internacional – nunca isso esteve no nosso horizonte – era realizar uma época mais tranquila, que não tivesse em nenhum momento do seu percurso interrogações relativamente à permanência. Assim não aconteceu, pese a Académica nunca ter estado abaixo da linha de água e ter mantido sempre uma margem de cinco, seis pontos acima da mesma, eles nunca foram suficientes para que, com clareza, essa permanência, essa tranquilidade, fosse manifesta.
DC – Tendo em conta o valor da equipa, comparativamente com as restantes formações, era de esperar mais da Académica, ou a manutenção tinha que ser vista como o objectivo real?
MM – A manutenção era o objectivo real. Basta vermos que transitou um conjunto de atletas de épocas anteriores, também elas não muito conseguidas, até menos do que esta última, por isso a qualidade desse grupo de jogadores já tinha no passado, deixado classificações pouco atractivas e depois foram introduzidos outros atletas que na sua maior parte não tinham experiência da prova em que iam participar. Ou seja, jogadores como Kaká, Paulo Sérgio, Dame, Miguel Pedro, Hélder Barbosa, Milos são todos jogadores numa faixa etária muito baixa e que vinham de divisões inferiores. Depois foram também introduzidos outros que nem todos confirmaram, de facto, aquilo que sustentou a sua contratação. Estou a referir-me a atletas como o Estevez, que manifestou desadaptação e foi embora, ou o Nestor que vinha muito credenciado e acabou por sentir problemas também de adaptação, embora tivesse permanecido, mas acabou por dar um contributo muito inferior aoesperado. Jogadores como o Hélder Barbosa, o Nuno Luís, o Milos, o próprio Dionattan que nunca deu um contributo semelhante àquilo que é capaz, todos eles estiveram fora da competição por largos períodos devido a lesões. E, na conjugação de todos estes factores, acabámos por ter um grupo que não materializou um futebol, em termos de rendimento, ao nível do pretendido.

DC – Posso depreender que, à excepção de Lino, os reforços não terão representado a mais-valia esperada. Os centrais limitaram-se a cumprir, no meio-campo voltou a ser Brum o mais utilizado e no ataque valeu o regresso de Joeano e o empréstimo de Pitbull. Se as novas caras tinham todas o seu aval, ficou decepcionado com o rendimento de muitos?
MM – O treinador não avaliza os jogadores sozinho. Aqui faz-se um trabalho tripartido em que o técnico traça um perfil dos jogadores, com base numa ideia e numa filosofia de jogo que lhe está subjacente, mas a materialização do plantel é do director desportivo e, acima dele, da Direcção do clube. Não há aqui ilhas, há, de facto, um trabalho conjunto na avaliação tendente à contratação.
Relativamente aos nomes que citou, nem tudo o que disse traduz aquilo que é a realidade. A equipa foi mais produtiva na 1.ª volta do que na 2.ª em termos de número de golos conseguidos, e não estava cá nem Joeano nem Pitbull, por exemplo. Agora, numa ideia única, que o que se fez, no imediato, não teve o resultado esperado, esse é um facto.
Eu penso é que se lançaram os alicerces para que a Académica tenha um núcleo duro de jogadores que possa constituir-se como a espinha dorsal, durante três ou quatro anos, que permita fazer um trabalho sustentado de médio, longo prazo. E penso que nesse campo, jogadores que foram adquiridos na época anterior, sem prejuízo do tal rendimento imediato que não tiveram, podem vir a revelar-se muito interessantes e permitir a construção de uma equipa mais sólida, de continuidade e com rendimento maior no futuro próximo.
DC – Nessa espinha dorsal quem é que está a colocar?
MM – Jogadores como Sarmento, Vítor Vinha, Kaká, Milos, Paulo Sérgio, Miguel Pedro, infelizmente parece que se vai perder o Dame, mas já contei uma mão cheia de jogadores jovens, com potencial – e o mercado começa a manifestar apetência pelos mesmos – que podem vir a constituir-se como o tal núcleo duro.

DC – Voltando à época que acabou. Qual foi o maior problema? Foi a chegada dos reforços a conta-gotas?
MM – Foram muitos problemas. Nem todas as escolhas resultaram, houve um conjunto largo de lesões que perturbaram, houve jogadores que pela sua inexperiência não deram, no curto prazo, uma resposta boa, mas adivinho que na próxima época estarão bem acima daquilo que produziram e, por isso, houve toda uma conjugação de factores que impediram que a época fosse tão boa quanto queríamos. É evidente que aquilo que disse relativamente aos “timings” da introdução de jogadores também perturbou. Foi uma profunda remodelação e ela não é fácil de ser feita e nem todas as coisas acontecem no tempo adequado. Começar a época como começámos, com 12 jogadores a trabalhar mais alguns “miúdos” do Tourizense para dar corpo e possibilitar que o trabalho fosse minimamente rentabilizado, não é saudável nem aconselhável. Mas foi aquilo que foi possível ser feito. O que tem é que se aprender com os erros, tentar rectificar processos de forma a que, na próxima temporada possamos começar de uma forma mais correcta.

DC – Mas a remodelação adivinha-se outra vez…
MM – Não me parece. Não acho que venha a ser, nem de perto nem de longe, tão profunda. Estamos a falar de 18 jogadores. Foi aquilo que a Académica introduziu na temporada que agora termina. Se para a próxima, a remodelação for 40 ou 50% desse número, já constituirá um avanço positivo.
DC – Pedro Roma, Brum, Filipe Teixeira, Lino e Dame foram considerados pelo Diário de Coimbra como os cinco melhores jogadores da época. Dame já saiu, Pedro Roma ainda não renovou, Brum, Filipe Teixeira e Lino não se sabe se vão continuar. Destes quais os que considera imprescindíveis?
MM – Não há jogadores imprescindíveis em nenhum clube do Mundo. O futebol, hoje, é uma indústria e por isso os activos do património humano-desportivo é que, de alguma maneira, permitem sustentar economicamente, dar viabilidade aos clubes. Por isso não há jogadores imprescindíveis nem no Real Madrid, nem no Chelsea, nem na Académica de Coimbra. Nesse contexto considerar este ou aquele jogador como fundamental para que a equipa, o clube, possa sobreviver, parece-me uma perspectiva errada e com a qual eu, de maneira alguma, me identifico.

DC – Mas gostaria de contar com alguns deles?
MM – É evidente, gosto sempre de contar com bons jogadores. No ano passado a Académica perdeu cinco ou seis activos muito interessantes. Apesar da perda e de todos os factores que atrapalharam a nossa vida, esta época conseguiu ser melhor do que a anterior. Por isso não é pela perda deste ou daquele que as coisas irão correr menos bem.
O que é importante é que se constitua um grupo equilibrado e que se programem as coisas em tempo útil, de forma a que se possa fazer um trabalho sustentado e enfrentar o campeonato, desde a 1.ª jornada, com a equipa minimamente formatada. As individualidades contam, como é óbvio, mas em desportos colectivos, fundamentalmente, conta o grupo.

DC – Quais são as posições em que considera que a Académica terá mais necessidade de estar no mercado para colmatar as falhas?
MM – Eu sou muito pragmático a esse respeito. Se olharmos para esta Académica, é uma equipa que joga bom futebol. Podem acusá-la de ter um baixo rendimento mas não de ser uma equipa tresmalhada, sem fio de jogo, sem circulação de bola, uma equipa, digamos, sem cabeça. Não é. Foi a crítica da especialidade, que valorizou, dos pontos de vista do espectáculo, da qualidade do futebol, esta Académica. Mas temos consciência que nos extremos do campo a equipa manifesta dificuldades. Quero dizer: é frágil no último sector, ou seja, defensivamente permitiu 46 golos, o que é muito. Mais do que um golo por partida é penalizante e esta equipa sofreu, em média, um golo e meio. E tem também algumas dificuldades em termos de concretização. A equipa conseguiu cerca de 30 golos, o que dá um golo por jornada. Teríamos que inverter a tendência: fazer golo e meio e sofrer menos que um e, certamente, jogaríamos para o primeiro terço da tabela. Portanto são as pontas da equipa que têm que ser alvo de uma maior atenção no sentido da melhoria da qualidade.

DC – Quando fala da defesa, está a incluir o guarda-redes?
MM – A defesa é toda a equipa. Agora os blocos quando vistos de forma mais analítica denunciam fragilidades mais específicas. É evidente que quando se fala de defesa, fala-se de todo o bloco defensivo, embora volte a dizer que uma equipa defende do primeiro ao último homem e ataca no sentido inverso e por isso não se poderá atribuir esses 46 golos sofridos aos centrais, aos laterais ou ao guarda-redes. É a equipa no seu conjunto que os sofre e que os marca.

DC – Importante será, então, que tudo seja feito em devido tempo de forma a começar a época já com o grupo definido?
MM – E estão a ser feitas. De momento, o presidente, o director desportivo e o treinador estão a trabalhar todos os dias para que isso seja uma realidade. Agora temos que perceber que futebol moderno é indústria, é rendimento, em última instância é dinheiro. E nesse contexto, nem tudo o que se quer materializar se consegue e muito menos, por vezes, em tempo útil, porque há que respeitar prazos de negociação, para se conseguir chegar a valores que se possam pagar. A Académica tem tido isso como ponto de honra, de pagar atempadamente aos seus profissionais, e vai querer fazê-lo no futuro, também. Não é difícil fazer um plantel desde que haja muito dinheiro, mas quando há um “plafond” e se quer ser rigoroso, as coisas têm que ser levadas com maior paciência.
DC – A nível de contratações já se fala em nomes como Orlando ou Bruno que já foram seus jogadores. Há outros com quem gostaria de voltar a trabalhar?
MM – É evidente que há jogadores com quem lidei que são óptimos praticantes. E ter óptimos praticantes é meio caminho andado para maior sucesso.

DC – Estes dois, particularmente…
MM – Neste momento não lhe posso dizer nada relativamente a isso. Eu opino tecnicamente para o interior e quem materializa, depois, é a Direcção. As questões contratuais são com a Direcção e os “timings” para anunciá-las serão também da sua responsabilidade.

DC – A sua continuidade prendeu-se com a vontade de efectuar, agora, um trabalho equiparável ao realizado em Guimarães e no Nacional?
MM – Um bocado, também. Há sempre circunstâncias que levam a que fiquemos ou não. De facto eu sabia que a vinda para a Académica era uma aposta de risco e disse-o em tempo útil, pois a Académica tinha quatro participações sempre na linha de água. Neste momento percebo melhor um pouco, porque é que tal acontece. Tenho dado o meu contributo para que as coisas possam mudar e como acredito que as pessoas que estão na Académica têm capacidade para que essa mudança se efectue, a disponibilidade para permanecer também é uma verdade.

DC – E quais são os aspectos que falhavam?
MM – Não vou dizer para o exterior aquilo que, do ponto de vista profissional, penso, no que diz respeito à questão anterior.

DC – Mas, a nível de estruturas a Académica está suficientemente apetrechada?
MM – Esta Académica tem aquilo que é fundamental. Por aquilo que conheço do seu passado, deu grandes passos em frente a nível da estabilidade económica. Esta Direcção fez um trabalho, por contraponto àquilo que acontecia há sete ou oito anos, em que os salários tinham cinco ou mais meses de atraso. Hoje isso não acontece. Os salários são pagos atempadamente, tem um “plafond” que julgo ser competitivo ao nível da concorrência para constituir um bom futebol profissional, tem vindo a criar uma estrutura física ao nível das condições de treino que permitem trabalhar com normalidade. Não estão ainda optimizadas na medida que a obra ainda está a decorrer, mas a curto prazo a Académica poderá ter um pequeno centro de treinos muito funcional. Tem um óptimo estádio, uma óptima cidade, tradição, estatuto, historial, por isso há um conjunto de condições muito positivas para que a Académica se afirme como um participante de continuidade na primeira liga e que o possa fazer com a ambição de colocar a sua equipa na primeira metade da tabela. E é com base nestes pressupostos que a minha continuidade se põe, também.
DC – Aposta numa época em que atinja esse desiderato?
MM – O que eu digo neste momento, porque ainda estamos a constituir o grupo, não conheço aquilo que a concorrência está a fazer e, por isso, por comparação não sei qual vai ser o nosso poder relativo, mas aquilo que eu pretendo para a próxima temporada é que seja uma equipa que sofra menos golos, marque mais golos, faça mais pontos e que, por consequência, tenha uma melhor classificação final. Será um conjunto de avanços, em vários parâmetros, do rendimento e da classificação final que julgo ser possível realizar.

DC – Especialmente nas últimas jornadas a Académica sofreu com as arbitragens...
MM – Eu acho que a arbitragem, de uma maneira geral, melhorou muito. O árbitro hoje é um cidadão com melhor preparação geral, muito acima do que era usual nos anos 70 e 80. Treina mais, está melhor apetrechado tecnicamente, é melhor conhecedor das leis, numa palavra, é um agente com maior competência. O que acontece é que o futebol acaba por reflectir a sociedade e vivemos num país onde as clivagens são cada vez maiores e, sendo todos portugueses, “são todos iguais mas uns são mais iguais do que outros”. E nos julgamentos, muitas vezes, isso reflecte-se.
Sabíamos que tínhamos um calendário que reservava para as últimas jornadas equipas com grande potencial que têm, de facto, uma cobertura diferente daquela que as equipas pequenas têm. Infelizmente para nós, acabou por se confirmar esta regra e a análise desses últimos jogos demonstra-o. No jogo com o Porto, fomos penalizados, com o Braga também, com o Marítimo voltámos a ser, ainda agora na Luz fomos penalizados, por isso houve um conjunto de julgamentos que nos foram desfavoráveis mas penso que a raiz do problema está naquilo que já referi: as clivagens, a grande cobertura que é dada a quem já é forte. Ninguém se quer juntar ao fraco. Há uma tendência para ser adepto do forte, para ajudar quem já está bem, quem não precisaria de ajuda.

DC – A arbitragem é um problema do futebol português, ou há outros mais graves?
MM – Não. O futebol português carece de uma análise que ultrapassa em muito o problema da arbitragem. É uma parcela. Eu tenho desde há muito manifestado algum descontentamento por aquilo que é o calendário das competições. Esta redução para 16 clubes e a perda de momentos competitivos parece-me nefasta. Não trouxe nada de importante ao futebol.

DC – E esta nova Taça da Liga?
MM – É mais um remendo, uma tentativa de atenuar aquilo que terá que ser mudado no imediato ou a médio prazo. É impossível ter profissionais a ganhar 12 meses e a trabalhar seis ou sete. Trinta semanas de competição mais uma ou duas eliminatórias da Taça, perfazem 32 em 52 que tem o ano civil, deixa-nos com mais de 40% de inactividade e isso em termos de rentabilização dos activos torna quase impossível a tarefa. A arbitragem merece reflexão e há trabalho a fazer em volta dela, no sentido de os tornar profissionais ou não, de lhes dar melhores condições para exercerem bem a sua função, mas penso que há problemas de maior dimensão no futebol português. Um deles é pegar nos modelos onde o futebol é uma indústria conseguida e apetecível. Nós vemos Inglaterra com 20 clubes, uma Taça da Liga, uma Taça de Inglaterra, seis ou sete clubes a participar nas provas internacionais e a chegar às finais.
Em Portugal reduziu-se, o desempenho dos clubes que participaram nas taças internacionais foi o mesmo, embora tivessem mais tempo para preparar as competições não foi daí que nada se alterou, a própria Selecção, apesar de ter mais tempo para se concentrar, continua a ter desempenhos semelhantes aos que já tinha na situação anterior e, portanto, não vejo que daí tenham surgido melhorias em termos de progresso, rendimento e resultados para as equipas ou selecções a nível internacional. O que vejo é jogadores a fazer 10, 12 unidades de treino por cada momento competitivo, o que cria graves problemas de motivação.

DC – Só confirmou a sua continuidade depois de garantida a permanência, embora a Direcção já o tivesse anunciado há bastante tempo.
MM – O presidente falou comigo em Novembro, manifestou vontade de que eu continuasse, fê-lo de novo em Fevereiro, depois em Março ou Abril oficializou essa vontade quando colocou o facto no “site” do clube. Agora havia, de facto, e há sempre, alguns pressupostos que permitem, ou não, materializar essa continuidade. Um deles era a questão da manutenção. Daí que eu deixasse sempre um “nim” no ar, relativamente à confirmação dessa vontade que a Direcção tinha manifestado há muito tempo. Só por isso.

DC – O objectivo para a nova época será, portanto…
MM – Melhor que esta. E vamos fazê-lo certamente.