"Pardalitos do Choupal"

Associação Académica de Coimbra

Vitor Santos,jornalista d' A Bola já falecido,foi o primeiro a chamar a Académica "Pardalitos do Choupal", em crónica ao jogo da vitória sobre o Benfica por 3 a 1 na época de 1961/1962

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-Pardalitosdochoupal@gmail.com-

 

Informações

Estádio Cidade de Coimbra

Estádio Cidade de Coimbra
Inauguração: 29-10-2003
Lotação: 30000


Ano da fundação: 03-11-1887
Rua Infanta D. Maria, 23 - 3030-330
Nº de sócios: 10336 (em 9/7/2007)
Internet: www.academica.oaf.pt

 

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sábado, 4 de julho de 2009

Testemunho

a) Seis de Julho de 1975. Campo D. Manuel de Melo, no Barreiro. Liguilla para a manutenção. Costa (agora José Alberto Costa) o azougado esquerdino da Briosa entra na área e é ceifado pelo capitão barreirense. Decorrem 57 minutos de jogo, o Académico perde por 1-0 (em Coimbra vencera por 3-0. Guilherme Alves (árbitro do Porto que pouco tempo de pois morreria no acidente aéreo da TAP na Madeira)aponta para a marca dos onze metros. O campo é invadido, um fiscal-de-linha agredido, vinte e oito minutos de paragem, um ambiente de cortar à faca. A iminência de um fim de tarde sangrento e de distúrbios. Gervásio parte para a bola e atira o esférico uma dezena de metros ao lado direito do poste defendido por Abrantes, salvando o jogo, evitando males maiores. A turba enfurecida acalma, o jogo termina, o CAC fica na 1ª divisão, e os acompanhantes do CAC conseguem sair miraculosamente intactos.
c)Onze de Outubro de 1976. Faculdade de Direito. Exame de Direito Internacional Privado. A formatura. A demonstração de que o binómio futebol-escola foi sempre a idiosincrasia da velha Briosa, depois CAC.
c)Dezassete de Junho de 1978, 42 minutos de jogo dum Académica-Guimarães, Gervásio é rendido por Gomes, no seu último jogo com o "jersey" da Briosa, sob uma trovoada de aplausos e os gritos Gervásio provenientes das bancadas que de pé saudavam o adeus do capitão academista que de lágrimas nos olhos abandonava o relvado, iguais às que hoje vertemos na hora do seu precoce mas já esperado passamento.

Três momentos aqui recordo do enorme capitão, atleta e académico que foi Vasco Gervásio. Quando em 20 de Junho de 1974 a secção de futebol foi extinta por uma minoria de passantes que andaram em Coimbra a roçar esquinas e a pintar paredes, ao arrepio dos próprios sócios da seccção que nem sequer foram ouvidos, numa assembleia selvagem, onde António Portugal, Dias Pereira, Campos Coroa, Humberto Teles e tantos outros foram esmagados na sua tentativa de evitar a criminosa extinção de uma secção que permitia aos filhos da 4ª classe poderem vir a ser doutores através do futebol e de uma obra social que deu ao país mais de duzentos licenciados, a Académica jogava em Orense a sua última partida de futebol, frente ao Stal Mielec da Polónia de Lato e Companhia.
Gervásio - o grande capitão - fez parte desse número de atletas (que o livro que falta fazer sobre a transição AAC-CAC deveria enunciar para a posteridade)que nos deram a mais eloquente lição da colocação dos valores desportivos e sociais, acima dos valores materiais, arriscando saneamentos selvagens das suas faculdades e a queda nos distritais de Coimbra, para onde uns tais Marcelos Rebelo de Sousa, Jorges Fagundes, Marques Mendes e quejandos a queriam remeter.
Como treinador reconduziria o CAC à 1ª divisão em 1983-1984, afinal de todos os momentos acima mencionados o menos importante, uma vez que a ratio da existência da Briosa nunca se esgotou no aspecto estritamente desportivo, da bola no fundo da rede, mas sim no sublimar doutros valores que cultivavam a diferença na igualdade, e não a igualdade da indiferença, onde a secundaridade do aspecto lúdico era gostosa e orgulhosamante erigida em bandeira de sonhos e quimeras.
Relembro o seu golo em 73-74 ao Benfica, as vitórias em Alvalade e nas Antas, os jogos europeus de Manchester, Lyon, Magdeburgo entre tantos outros, um futebol inteligência em movimento, os pardalitos do choupal, o tempo em que os jogadores pegavam de estaca.
O tempo vai passando. Inexoravelmente. Pouco a pouco as figuras de maior relevo na vida da nossa Instituição vão sendo chamadas para a sua última morada e os exemplos para as futuras gerações vão escasseando.
Gervásio partiu. Ele foi e não volta mais. Como alguém já disse, a simples esperança de um dia o poder voltar a ver torna mais fácil suprir o vazio da sua ausência e aceitar a minha própria morte.
Obrigado amigo e grande capitão e um até breve. Eu espero que lá em cima se abra uma janela para poderes continuar a olhar o teu mundo: a Família, os Amigos, a Briosa, que possas ser testemunha, também, do enorme esforço que há que fazer para retomar o trilho, para o reencontro com a história. A história que tu ajudaste a escrever. A tua história. A nossa história. Briosa sempre. Para ti, uma lágrima de saudade nesta hora tão dolorosa.

André Campos Neves