"Pardalitos do Choupal"
Associação Académica de Coimbra
Foi a primeira vez que ouvi alguém utilizar a palavra exílio a propósito dos sócios da Académica. Julgo que ninguém a tinha utilizado até hoje. Exílio. Ninguém me tinha resumido com tanta clareza, com tanta candura, a realidade da sua não presença no Estádio Cidade de Coimbra, da sua não presença nas Assembleias-Gerais da AAC-OAF.
Exílio. E não há conceito ou vocábulo que mais repugne, que mais se deteste na Academia. Exílio. Busquei disfarçadamente o porquê. Por a equipa estar velada de dor, de humilhação, de raiva? Por a Direcção estar isolada em si própria, ferida de morte? Senti que queria replicar qualquer coisa mas o grande velho associado, meu interlocutor, continuou a falar: de utopia, do realismo, da dúvida. Aquela dúvida que nos assalta, por exemplo, quando perguntamos a nós próprios se quem tem razão são os homens como Campos Coroa, Pompeu, Ferraz ou até mesmo eu, que da utopia usamos as lágrimas, do realismo o suor, da dúvida a certeza do sangue, mesmo com os mais elevados resultados desportivos, ou se a razão está com aqueles que como José Eduardo Simões agem em nome de um bom-senso à espera de comprovação, do raciocínio matemático na resolução de uma equação sem x nem y, nem de a+b=c; aquela dúvida que atormenta quando a inteligência envenena o optimismo e nos apercebemos que os dirigentes não correspondem à ideia dos sócios, que os sócios não correspondem à ideia de sócio, que o Académico não corresponde à ideia de Académica e descobre-se que ser lúcido quer dizer pessimista.
Pensei que te deveria dizer qualquer coisa que fizesse irritar de forma a ouvir gritar, de novo, FRA, Académica, Capa e batina, Lapa, Choupal, Cabra, Repúblicas, tascas, bebedeiras, estudantes virgens ou nem tanto, tudo no grande cadinho que é a Briosa. A nada reagiste. As tuas irritações sobre tudo o que respeitasse a AAC-OAF tinham desaparecido. E da mesma maneira as crises de angustia, ou ataques de cólera por um mau resultado desportivo. Em seu lugar estagna uma espécie de abulia, ou uma tranquila indiferença que me parece abulia, e só emergirás dela, é meu convencimento, a intervalos precisos. Por exemplo, à hora de eleições – qualquer coisa que, habitualmente, por um lado queres e por outro não.
Lucílio Carvalheiro
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