A «pontinha do véu»...

Quando José Eduardo Simões surgiu na Académica, com as funções de Director Financeiro da Comissão de Gestão liderada por João Moreno, a Académica encontrava-se numa situação de tesouraria difícil, por via da qual a Direcção anterior apresentara a sua demissão.

Na altura as soluções afiguravam-se poucas e, aos dirigentes demissionários, outra alternativa não restara que não fosse colocarem os respectivos lugares à disposição.

Já com salários em atraso, a Direcção tentara ainda, pouco tempo antes, angariar as verbas necessárias para solver os compromissos em falta.

Primeiro pela realização de um Jantar de empresários da região que era comum ocorrer anualmente, tendo-se assistido, pela primeira vez a uma pura e simples abstensão dos mesmos, não obstante a Briosa ter subido na época transcta à I Liga, cujo campeonato começara havia poucas semanas...

Mais tarde tentara ainda a Direcção efectuar os pagamentos, obtendo previamente a luz-verde para a emissão dos respectivos cheques do banco em causa.

Nada que se afigurasse à partida difícil, tanto mais que a operação seria feita com a garantia do contrato de patrocínio publicitário que se estabelecera entre o Grupo económico que detinha 75% do próprio banco e a equipa principal de futebol da Briosa, que publicitava então em destaque nas suas camisolas, o maior espaço de lazer e espectáculos existente no distrito.

Com os cheques já emitidos e entregues aos atletas sob compromisso da administração do banco, recebera então a direcção a incontrolável notícia do aborto da operação bancária em apreço, por decisão das mais altas instâncias da administração da própria instituição bancária. Afinal de contas as mesmas instâncias que dirigiam o Grupo económico em causa, ou seja, as mesmas que detinham também o espaço de lazer e espectáculos que a Briosa publicitava na parte da frente das suas camisolas
Porque seria?

Porque seria que os mesmos cheques que o banco então se recusara a pagar (não obstante estarem garantidos por um contrato celebrado com o grupo económico que o controlava) seriam poucos dias depois liquidados sem qualquer dificuldade, quando José Eduardo Simões já estava ao leme das finanças académicas, com João Moreno a dar a cara, qual autêntica capa de revista, pelo projecto?
A verdade é facilmente explicável e encontra-se novamente nos interesses empresariais do citado Grupo, designadamente nos relativos à construção dos espaços desportivos e comerciais relacionados com a realização, em Coimbra, do Euro2004.
Mais tarde, quando João Moreno faleceu (aliás já estava bastante doente quendo reapareceu e todos o sabiam...) foram postos em cima da "mesa" vários nomes para eleger o Presidente da Comissão de gestão em sua subsituição, nomes esses que foram sucessivamente vetados por JES, que apresentava no curriculum a sua enorme facilidade em angariar fundos para as depauperadas finanças da Briosa.

JES foi sucessivamente vetando os nomes de Vasco Gervásio e Álvaro Amaro, por exemplo, não obstante saber que ia para este segundo a preferência do presidente, que de viva voz a afirmara no leito do hospital.

JES de há muito decidira tomar as rédeas da instituição, tendo, com o falecimento de Moreno, feito activar o processo da sua rápida ascensão à presidência.
Foi então que as obras do Estádio e espaços circundantes, avançaram, de forma a patrocinar a Académica.
A Câmara Municipal cede o Estádio à Briosa, e esta (sem que até agora se saibam os contornos desse contrato) de forma que alguns consideram ilegal, subarrenda-o a uma empresa de marketing e merchandising.
Ao mesmo tempo é o novo espaço comercial limítrofe ao estádio, que tem uma importância tremenda em todo este processo, que aparece a patrocinar as equipas da Académica, sem que pague um tostão, por exemplo, à equipa de Basquete, conforme fora prometido, aquando da assinatura do contrato de sponsorização...
Ora, o "dono" deste espaço é nem mais nem menos, que o Grupo económico que fizera cair a direcção anterior da Briosa e que encontrara na então Comissão de Gestão o seu mais seguro «porto-de-abrigo«.

Entretanto empresários até então pouco conhecidos em Coimbra e sobretudo nos meandros da paixão clubista pela Briosa, começam a aparecer, colocando jogadores a preços altíssimos na Académica a pretexto da já famigerada denominação «Fundos de Investimentos»...

Empresários esses simultaneamente ligados a obras de construção civil a decorrer em Coimbra, e que mais tarde acabam por ser embargadas pela CMC, por irregularidades várias, algumas delas ocorridas e detectadas no período onde é o próprio JES o Director Municipal do Urbanismo.
Entretanto, os negócios de entradas e saídas de atletas maioritariamente brasileiros vão-se sucedendo na Briosa, sem que da parte dos vice-presidentes se ouça uma só palavra, que não seja de total e completo desconhecimento da forma como o presidente gerira tais dossiers.

Todo este processo menos claro faz de JES arguido num processo em que é suspeito de corrupção e tráfico de influências, o que acontece pela 1.ª vez na história da centenária AAC...

E pronto, chegámos ao dia de hoje, no qual apesar de tudo estamos felizes.

É que a Briosa, após uma época atribulada, com um orçamento confessamente altíssimo, acabou por safar in extremis da despromoção, não obstante terem, na clasificação final, ficado à sua frente equipas modestas e com muito menos recursos, como o Estrela da Amadora e o Paços de Ferreira, ou ter sido igualada pela Naval, cujo orçamento é inferior ao seu em mais de...700 mil contos, segundo os números oficiais.
Fica assim levantada um pontinha do véu, quanto ao processo da reinação de JES.

Algo para continuar mais tarde...