Diário de Coimbra: Estudantes esperaram 16 horas pela Serenata

A espera foi longa e exigiu todo o tipo de distracções. Jogar às cartas, fazer o sudoku, assinar fitas dos amigos ou ouvir música foram algumas estratégias utilizadas. «Até uma simples pomba a passar torna-se um entretém fantástico», explicou um estudante

Ontem foi dia de Serenata Monumental em Coimbra e, como manda a tradição, alguns dos finalistas procuraram garantir desde cedo os melhores lugares para assistir a um dos momentos mais marcantes da vida académica coimbrã.Às 16h00 o calor não dá tréguas. Cerca de 30 estudantes ocupam os degraus da Sé Velha. Há pastas e capas espalhadas por todo o lado. Joana Araújo e Vanessa Bettencourt foram das primeiras a chegar e seguram um guarda-chuva na mão, ontem transformado em guarda-sol.

Às 8h00 as estudantes de Medicina já estavam na Sé Velha. «Mas este ano até foi dos anos em que o pessoal chegou mais tarde», explicam. Entretanto vale tudo para combater as 16 horas de espera até as badaladas da meia-noite, que marcam o início da Serenata. Joga-se cartas, faz-se o sudoku, escrevem-se fitas para os amigos, ouve-se música e lê-se. Mas há quem tenha estratégias diferentes. «Falamos uns com os outros e tenta-se dormir um bocado. Aqui até uma simples pomba a passar torna-se um entretém fantástico», avança Cristiano Oliveira, 25 anos, aluno de Informática de Gestão.Em comum há a partilha de um espírito solidário e o convívio entre estudantes de várias faculdades. «Convivemos uns com os outros, como no primeiro ano, é uma união de vários cursos tão característica em Coimbra. Acho isto muito bonito», afirmou Joana Araújo.Situações caricatase turbilhão de sentimentos na despedidaTécnicos de som fazem preparativos e a polícia limita o trânsito na Sé Velha. São rotinas banais para os estudantes, que tudo observam da escadaria da Sé Velha. Mas as situações «esquisitas» também marcam presença. «Uma senhora veio dar esmola para nós comermos e tivemos aqui um senhor doidinho a tenta fazer uma serenata para nós», conta Joana Seabra, finalista de Medicina.

Excursões com turistas ingleses, espanhóis ou franceses cruzam o largo da Sé Velha. Ao espanto dos forasteiros responde o tradutor, que explica a tradição académica. Os turistas acham piada ao cenário e solicitam os estudantes para fotos de grupo. Os alunos a todos acodem, afinal é mais uma maneira de passar o tempo. «Os turistas metem-se muito connosco. Tiram-nos fotos e ficam junto a nós por um bocado», especificam Joana Araújo e Vanessa Bettencourt.Para os estudantes finalistas é difícil traduzir o sentimento dominante, naquela que será a última Serenata e Queima das Fitas. «Há uma mistura de todos os sentimentos», avança Cristiano Oliveira. «Tristeza da saudade e alegria de acabar o curso», arrisca descrever Joana Araújo. Uma coisa é certa. Todos estão prontos para as longas horas de folia das Noites do Parque. «É o nosso último ano e temos força para tudo», conclui Joana Seabra.

Críticas ao novo figurino da Queima

O alargado tempo de espera na escadaria da Sé Velha suscitou algumas conversas em torno do formato renovado da Queima das Fitas.

«Não concordamos com o Cortejo ao domingo em vez da terça-feira, nem com não subirmos cartoladas no dia de Medicina, nem em haver Noite do Parque e convívio de Medicina na Noite da Serenata», enumeraram Joana Araújo e Vanessa Bettencourt, estudantes de Medicina.Cristiano Oliveira, aluno de Informática de Gestão, foi mais longe. «Com a Garraiada sem fitas e a Serenata e a primeira Noite do Parque no mesmo dia isto nem parece a nossa Queima», lamentou.Já Joana Seabra, também estudante de Medicina na Universidade de Coimbra, admitiu que tem «muitos colegas que estão a sentir as mudanças». «Mas as alterações têm de ser feitas devido a Bolonha. Temos é que aceitar e não chatear muito o Dux Veteranorum», concluiu.Os protestos contra o figurino da Queima ganharam vida também na noite de quinta-feira, quando um grupo de estudantes, que não se quiseram identificar, realizou uma Serenata «de protesto».

Serenata juntou três grupos de fadoA Serenata Monumental, que ontem teve lugar na escadaria da Sé Velha de Coimbra, marcou o início das festividades principais da Queima das Fitas. Actuaram três grupos de fado da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC).«Os Lacrima e os Despertar foram presenças habituais. Mas o Grupo de Fados e Guitarradas da SF/AAC foi estreante na Serenata», explicou Gonçalo Ribeiro, Comissário do Cortejo e Garraiada e responsável pela Serenata Monumental da Queima das Fitas 2008.
Depois da Serenata foi lançado fogo de artifício do Parque da Canção, «para chamar as pessoas para lá», justificou Gonçalo Ribeiro. Recorde-se que este ano a primeira Noite do Parque realizou-se ontem, imediatamente após a Serenata Monumental.