in Diário de Coimbra:Estudante atleta conquista estatuto na Universidade

A ideia é promover e dignificar a prática do desporto na Universidade colocando-o num patamar “mais sério do que tem tido até agora”A Universidade de Coimbra (UC) criou ontem um estatuto específico para o estudante atleta, com vista a permitir uma melhor conjugação das duas actividades e a promovendo a prática desportiva no meio académico.

O Regulamento do Estudante Atleta da UC foi aprovado por unanimidade pelo Senado e era uma reivindicação antiga dos estudantes, disse à Lusa o presidente da Associação Académica (AAC), André Oliveira, que, em 2006 abandonou a equipa de rugby da AAC, por incompatibilidade de conciliação com os estudos.A AAC possui 25 secções desportivas e uma sessão em desenvolvimento (pró-secção), de bilhar.O novo estatuto permite ao aluno praticante de desporto flexibilização de horários, frequentando nomeadamente aulas de várias turmas, o adiamento de prazos para entrega e defesa de trabalhos e relatórios, o pedido de relevação de faltas e a realização de exames em épocas especiais.Para beneficiar do estatuto, terá, entre outros deveres, de estar presente em pelo menos 75% dos treinos, cumprir os «princípios da ética desportiva» e «respeitar o bom-nome» da Universidade.«A ideia é promover e dignificar a prática do desporto na Universidade e em grande parte na Associação Académica, colocando o desporto num patamar mais sério do que tem tido até agora» disse, por sua vez, a vice-reitora Cristina Robalo Cordeiro, mentora do novo regulamento.O controlo do cumprimento do estatuto pelo estudante atleta será feito por um Observatório do Desporto, criado no âmbito do regulamento, com elementos da Universidade e da AAC.O estatuto do estudante atleta é, na opinião do presidente da AAC, «extremamente importante no actual contexto do processo de Bolonha».«Com os novos métodos de avaliação e a carga horária que os estudantes têm hoje, devido ao processo de Bolonha, a prática desportiva sai prejudicada», sustentou o estudante.André Oliveira já sentiu na pele a dificuldade de conjugar os estudos com o desporto, quando, em 2006 entrou para a presidência da AAC. «Não consegui conciliar com o rugby, era muito complicado. Basta um atleta estar num campeonato nacional para ter treinos todos os dias e ainda ter jogos aos fins-de-semana», disse, sublinhando que a obtenção de bons resultados desportivos implica uma «grande dedicação».No preâmbulo do regulamento, a Universidade refere as actividades extracurriculares enquanto «expressão de uma cidadania consciente e madura» e reconhece a prática desportiva como «complemento de um salutar desempenho académico», que «fomenta um saudável espírito de cooperação e competição».Nuno Piloto, médio da Académica de Coimbra/Organismo Autónomo de Futebol, licenciado em Bioquímica e actualmente a realizar mestrado em Medicina Legal e Ciências Forenses, disse à Lusa que, enquanto estudante, «sempre conseguiu conciliar» as duas actividades.«Nunca usufrui de épocas especiais para exames, sempre deu para ir à maior parte das aulas, mas acaba por haver um certo sacrifício pessoal», referiu, considerando que a maior dificuldade está na «gestão do tempo e na disponibilidade mental para, depois de um dia de treinos, chegar a casa e ainda pegar nos livros».Mais difícil será conjugar o futebol com a Medicina Legal e Ciências Forenses. «Não há muita compatibilidade, estou inclinado para seguir a carreira de atleta», disse.