Saraus

Lembro com saudade e com alguma nostalgia, a época em que a Académica jogava só com estudantes, ou maioritariamente com estudantes, tendo alguns profissionais a complementar a qualidade da equipa.
Recordo-me dos casos do Peres e Lourenço ( o dos 4 golos ao Benfica, quando jogava pelo Sporting) que vieram por uma ou pouco mais épocas ajudar a nossa equipa.
Mais tarde, a profissionalização tendeu a ser regra, e aos poucos a tradição deixou de ser o que era.
Vem isto a propósito, de não me lembrar quando era "puto", de estrangeiros (mesmo brasileiros) a jogar na Académica.
A ideia que tinha (falsa ou verdadeira , tanto faz), é que esses jogadores só estavam ao alcance das grandes equipas. Essas tinham capacidades financeiras, tal como hoje, de poder contratar atletas vindos de fora.
Está bem presente na minha memória, que quando lia jornais a anunciar a vinda de mais um imigrante - e porque não havia internet, para poder tirar informações - comprava avidamente os jornais ("Bola", "Record", "Mundo Desportivo" e mais tarde a "Gazeta dos Desportos") com o simples intuito de saber quem eram os craques.

Acontece que tinha um amigo (e tenho felizmente), que era um ferrenho adepto leonino, e como era tradição para as bandas de Alvalade, rarissima era a época, em que não contratavam um ou mais Brasileiros.
Na altura do carnaval, era (não sei se ainda é...) costume haver saraus em Alvalade. Estes, eram constituidos por variedades, magia, enfim, activades lúdicas.
Um dia, vem estampado num jornal desportivo em letras garrafais o seguinte anúncio:
"SARAUS NO SPORTING"

O meu amigo, com tanta vontade de o seu clube ter encontrado um novo Eusébio, agora vestido de verde, comentou para mim:
- Ó Mário agora é que é. Este Saraus deve ser um craque do "caraças".

Tinhamos à volta dos 10, 11 anos. Eu dizia, cheio de convicção, que de certeza era mais um barrete, e ele teimava no esplendor da contratação.
Estavamos ambos enganados. O "homem" afinal, sendo um "espectáculo", não era jogador de futebol...