O défice cultural e cívico

Quando chego a Coimbra e entro no ECC sinto um enorme vazio na alma ao ver cerca de 25 000 lugares vagos. E não posso deixar de pensar no divórcio que existe entre a Academia e a AAC-OAF. É óbvio que este divórcio tem a ver, fundamentalmente, com o modelo que vem sendo posto em prática pela actual direcção. Devo salientar, no entanto, as tentativas louváveis, por parte desta, no sentido de levar gente ao estádio. Porém, têm falhado.
Há uns bons anos atrás os jovens universitários iam ao cinema, iam aos poucos concertos musicais, iam um pouco ao teatro e também iam ver a Académica jogar.

Hoje os jovens universitários também continuam a ir ao cinema, aos vários concertos musicais, um pouco ao teatro, mas não vão ver a Académica.

Ou seja, o futebol deixou de fazer parte do roteiro cultural. Este divórcio tem, portanto, a ver com a descaracterização contra-natura de que a Académica está ser alvo. Compreendo e aceito o modelo da "bola na rede", mas esta tem de ser chutada por alguém que saiba o significado da camisola centenária que enverga, que perceba que está numa cidade cheia de história, que sinta o valor paisagístico, humano e cultural de Coimbra. Enfim, o jogador da Académica deverá transportar sempre consigo uma bagagem cultural única. Agora não aceito o modelo da "bola na rede" a qualquer preço. Não aceito que a bola no fundo da baliza tenha sido chutada por jogadores-mercenários, por alguém que veste a camisola da Briosa de forma interesseira, por alguém que desconhece totalmente a grandeza da cidade onde está inserido.
É claro que sei perfeitamente ser impossível, e utópico querer uma equipa maioritariamente composta por estudantes, mas penso ser perfeitamente possível ter, um conjunto de cinco ou seis jogadores universitários que possam tornar a Académica mais Académica.

O caso de Nuno Piloto é, para mim, paradigmático.

As repercurssões que a conclusão da sua licenciatura geraram contribuiram para voltar a engrandecer a instituição. Só com esta filosofia poderá deixar de haver divórcio entre a Academia e a AAC-OAF e a própria cidade.

Outro problema que me parece existir é, para além de um défice cultural, um défice cívico.

Vem isto a propósito do que observei entre a claque Mancha Negra no recente jogo de Leiria e, sobretudo, na Amadora.

Gostaria, no entanto, de frisar que a MN tem, mais do que ninguém, uma enorme responsabilidade nos êxitos da equipa. De facto, a MN é incansável no apoio à equipa, acompanha a equipa para todo o lado ; vai à Madeira, ao Porto e até, se for preciso, ao céu. Contudo, o que infelizmente vi na Amadora é inqualificável. Como é possível que um bando de marginais insulte os adeptos adversários com palavras, gestos e actos próprios de gente selvagem. Para além de assistir à derrocada da equipa, presenciei amargurado as referidas cenas. O que vi preocupa-me bastante. Era, a meu ver, importantíssimo o papel da MN na captação de novos adeptos, envolvendo a Academia e a cidade, sobretudo quando sei que entre a actual direcção está alguém que já foi líder da claque. Enfim, poderei, e assim espero, estar a fazer uma leitura algo exagerada da situação.

Gostaria, portanto, de saber a opinião de alguém que me ajudasse nesta reflexão.
Viva a Académica!!!