A saída de Lira

A saída do jogador brasileiro Lira do plantel da Académica, verificada ontem, é, no mínimo, «sui generis».
É que, como tem sido seu apanágio em casos similares, recorreu a Direcção aos chavão dos problemas pessoais do jogador para justificar a mesma, ocultando aos associados da Académica – que têm o direito de saber porque são as suas quotizações que ajudam a pagar este permanente «entra-e-sai» de atletas, sem que se percebam as razões – em primeiro lugar a existência prévia de problemas disciplinares (ocorridos num treino da equipa) que haviam levado Nelo Vingada a tirar a titularidade ao esquerdino e, em segundo lugar, o seu destino, nada mais, nada menos do que o popularíssimo e primodivisionário Botafogo do Rio de Janeiro (sic. notícia do jornal «O JOGO»).
E assim sendo, mesmo correndo o risco de que, mais uma vez, venham dizer que os «Pardalitos do Choupal» só servem para criticar, caberá deixar algumas questões à Direcção, no intuito de esclarecer o caso:
Se o atleta vai alinhar pelo Botafogo, qual a comparticipação financeira que o clube alvi-negro do Rio de Janeiro pagará à Briosa pelo empréstimo ou, pelo menos, que compensações se vislumbram, para se prescindir sem mais de um jogador titular (até há bem pouco tempo) e que tem contrato válido, a custo zero?
Se o jogador abandona a Académica transitoriamente e por problemas pessoais e a instituição o deixa sair, ignorando as suas obrigações contratuais, passará doravante tal medida a aplicar-se a qualquer outro atleta? Ou seja, se por exemplo Marcel alegar em breve problemas pessoais para ir jogar pelo Cruzeiro de Belo Horizonte, ser-lhe-á dada idêntica oportunidade e sairá a custo zero, para mais tarde regressar?
E o «activo económico» que tanto alegaram que o passe do jogador constitui? Valorizar-se-á mais no campeonato brasileiro, do que aqui em Portugal? É que, se assim é, começo a não perceber porque é que tantos brasileiros trocam, sem pestanejar, os grandes do seu país por pequenos clubes europeus, onde espreitam a oportunidade de dar o salto, pela maior visibilidade a que estão sujeitos no «velho continente»...
Em suma, ficam as questões de fundo:
Porque não conta efectivamente a Direcção o que se passa e não esclarece os sócios, até no intuito de não dar lastro a críticas e a especulações?
Porque segue sistematicamente a Direcção uma política de «lei da rolha», quando hoje em dia sabemos que as transferências permanentes de atletas são normais em futebol e, por isso, devem ser encaradas com naturalidade e, sobretudo, apresentadas com transparência absoluta, para que não fiquem dúvidas sobre os interesses subjacentes à sua concretização?
Porque persiste a direcção em contar-nos a «história da carochinha», como já havia feito com a saída de Artur Jorge, há anos atrás, que após ter constituído o plantel e iniciado a época desportiva, decidiu à segunda jornada do campeonato que queria sair, e cito, «para poder ler livros e ir ao cinema».
Nos «Pardalitos» somos a favor da recomposição do plantel, na reabertura de mercado em Janeiro.
Nos «Pardalitos», fique absolutamente claro, confiamos nos responsáveis do futebol da Briosa, designadamente após a última recomposição do departamento.
Nos «Pardalitos», contudo, não aceitamos qualquer explicação que queiram dar-nos sobre as medidas tomadas a esse nível, e exigimos, como sócios da Briosa que somos, clareza, rigor, transparência e verdade na explicação das mesmas.
Se assim for, apoiaremos…
Se não, paciência…
Lá virão de novo os anónimos dizer que somos o «Clube da Má Língua»…