A «dança» dos treinadores...

Está na livre discricionaridade dos dirigentes dos clubes contratar, despedir e mudar o treinador, antes, durante ou depois de cada época desportiva.
Tal prerrogativa directiva constitui de facto um acto de gestão corrente que cabe, as mais das vezes, ao Departamento de Futebol da instituição em causa, sendo a escolha respectiva muitas vezes determinante para a consecução dos objectivos desportivos pré-determinados.
O treinador de uma equipa é tão importante como os seus jogadores para o sucesso colectivo, porque dele depende a liderança do grupo, a adopção do modelo de jogo, a definição da estratégia para cada partida, a aposta em determinados atletas e designadamente a preocupação de lançar novos talentos, enfim um conjunto de medidas todas elas conducentes à ideia de atingir os objectivos propostos.
É assim também na Académica, onde Nelo Vingada, goste-se ou não, queira-se ou não, tem sido um treinador eficaz. A sua chegada a Coimbra coincidiu na primeira época com uma recuperação assinalável da equipa e, mais importante do que isso, com a sua manutenção entre os grandes do futebol nacional.
Já na sua segunda temporada ao serviço dos de negro, o Professor, com altos e baixos, tem garantido, quase sempre, o posicionamento da equipa a salvo dos lugares de descida, não obstante as críticas que lhe são tecidas dos mais variados quadrantes (inclusive aqui neste blog e com inteira «legitimidade democrática»), e que destacam sobretudo o seu pragmatismo alegadamente excessivo, muitas vezes traduzido naquilo que parece ser o contágio colectivo da equipa pela falta de ambição.
Mas, à parte das suas características como técnico, Vingada tem outras, de cariz pessoal que cabe destacar:

É um homem culto, polido e eloquente, no que respeita ao discurso.

É um profissional íntegro, honesto, sério e dedicado, no que concerne ao trabalho.
Tenho para mim que, na época presente, a imagem do Professor sai inclusive prejudicada pelos objectivos irrealistas traçados para a época pela Direcção, designadamente o do «utópico» apuramento para as competições da UEFA.
Reparei, na altura, que Vingada foi muito mais comedido, refugiando-se na ideia de liderar uma equipa que pretendia deixar marca na história da Briosa, sem que nunca consubstanciasse essa marca num objectivo concretamente definido.
Recordo ainda que o Professor fazia anteceder tal discurso da disponibilidade directiva para manter alguns jogadores que, no seu entender, constituíam a espinha dorsal da equipa, a saber José Castro, José António, Vasco Faísca, Hugo Leal e Dário.
Ora dos atletas referidos só um se manteve, obrigando Vingada a lançar mão de outras opções que apresentavam a enorme desvantagem de estrear na Briosa e de não estarem já integradas no grupo que transitava para a presente época.

Claro que, por isso mesmo, foram algo notórias as dificuldades de alguns atletas como Pedro Silva, Hugo Alcântara, Zada, Fernando ou Gélson em se imporem definitivamente na primeira equipa e em fazerem esquecer os seus antecessores.
Ou seja, acabou por «sobrar» para Vingada o discurso inicial da «euforia uefeira», ainda por cima utilizado sem o sustentáculo que o treinador pretendia à partida.
Tenho por isso para mim que, ao garantir a manutenção da Briosa na I Liga, Nelo Vingada terá cumprido a sua missão e que poderá dar como francamente positiva a sua passagem por Coimbra, se, como por aí se diz, deixar a Académica no final da época.
Agora o que não entendo é como permite a nossa Direcção que numa fase crucial do campeonato – atenção que a manutenção ainda não está garantida! – circulem nomes de treinadores alegadamente contactados para liderar a Briosa para a próxima época.
Não o entendo porque, goste-se ou não do actual técnico, volto a sublinhar, tal constitui para mim um desrespeito pela figura, o trabalho e o profissionalismo de Nelo Vingada.
E tanto que assim o entendo que fui frontalmente contra a ideia de divulgar no nosso blog, um contacto que nos garantiram ter ocorrido (seria verdade?) com um treinador actualmente no desemprego, para que assumisse funções na Briosa, já na próxima época desportiva.
Conversámos e decidiu-se que a estabilidade da equipa e a sua tranquilidade e concentração na luta pela manutenção na I Liga justificava na íntegra a omissão...

Omissão essa, aliás extensível ao que sabemos também sobre o destino de pelo menos dois atletas titulares da actual equipa e que, para o ano, não serão, com toda a certeza, jogadores da Briosa…
Queiramos ou não, gostemos ou não, será com este técnico e com estes atletas que lutaremos até final pelo objectivo de consolidar o lugar que é nosso por direito histórico entre os grandes do futebol luso.
Por isso mesmo, a minha consciência de adepto ficará ferida, quando olhar para o banco da Académica na Reboleira e sentir que o homem que o lidera, lê e ouve diariamente notícias sobre a presumível identidade de quem lhe sucederá.
Tranquilidade para liderar, tê-la-á?
Motivação profissional (tendo em conta que se trata de um ser humano que não é imune às previsíveis mudanças que a sua vida poderá sofrer a breve trecho), tê-la-á?
Capacidade para se impor ao grupo e fazer valer junto deste as suas ideias, tê-la-á?
Confesso que não sei, mas espero francamente que sim.
Como espero que os telefonemas para colegas seus no desemprego e outros contactos que com estes venham a estabelecer-se, sejam, a bem da sua imagem profissional, feitos doravante com a reserva e a discrição que a situação exige, independentemente dos respectivos destinatários.
Porque, por agora, conhecer as suas identidades pouco importa!
O que importa é que até final da época o treinador será Nelo Vingada e é esse treinador que devemos respeitar, dando-lhe as condições necessárias para que tenha sucesso.
É que o sucesso de Nelo Vingada, não é o seu sucesso «tout-court», mas o sucesso da Briosa, o sucesso de todos nós!
Força mister!