O fidalgo que palitava os dentes…

Uma ideia louvável e digna do apoio de todos os académicos, foi a recente iniciativa de solidariedade que teve a Académica como protagonista. Para Cabo Verde seguiram equipamentos de futebol, directamente do Pavilhão Jorge Anjinho, com a Briosa a fazer jus ao nome que vai mantendo pelo continente africano e, designadamente, em «terras da morabeza» onde são cerca de treze as filiais do emblema estudantil.
Um gesto de solidariedade tomado à medida da história e da tradição da instituição, decerto muito apreciado naquele arquipélago
E tudo se ficaria por aqui, pelo aplauso, não fossem as informações obtidas recentemente pelos «Pardalitos do Choupal» acerca das dificuldades vividas no quotidiano das equipas de futebol jovem da nossa Briosa, designadamente ao nível dos equipamentos e do apoio logístico por parte do departamento de futebol juvenil.
A nossa equipa do escalão de Iniciados, por exemplo, carece neste momento de fatos de treinos, sacos e anoraques, apresentando-se nos jogos sem a necessária dignidade exigida a uma equipa da Académica, mais à semelhança de um grupo de excursionistas que à imagem dos escalões de formação de um emblema com históricos pergaminhos nesta área, e envergonhando por isso técnicos, jovens atletas, pais e sobretudo dirigentes.
E nem se argumente que no passado já era mais ou menos assim. Uma instituição como a Académica, com o orçamento que actualmente apresenta e as receitas fixas de que dispõe nos dias de hoje, tem de facto de evoluir, fazendo um gradual investimento na formação e efectuando um esforço para ter em dia os subsídios a pagar ao departamento e os vencimentos a pagar aos técnicos, o que também hoje não acontece…
Por isso, o citado envio de equipamentos para Cabo Verde, profusamente difundido nos meios de comunicação social, acabou por fazer-me lembrar aquela anedota do aristocrático fidalgo que estava completamente falido, não tendo sequer dinheiro para comer, mas que todos os dias vinha para a porta do seu palacete (a única coisa que realmente lhe restava), palitar os dentes, à vista de quem passava, no intuito de fazer crer que, mais uma vez, tivera um lauto repasto…
Obviamente, não que se conteste o que foi feito com o envio dos equipamentos para um país carenciado, em relação ao qual temos responsabilidades particulares, mas porque se defende ao invés que antes de fazer «show off» com iniciativas de solidariedade por todos apoiadas, se deve olhar para dentro e pôr ordem na casa, cumprindo o desiderato de efectuar uma gestão profissional e dotada dos meios indispensáveis a que se faça uma verdadeira formação.
Em suma, chegou definitivamente a altura de apostar no futebol jovem, não apenas quando aparecem os flashes da Kodak…