Outra vez amigos 18 anos depois*

*Notícia do jornal «A Bola», na sua edição «on line» de hoje

De costas voltadas desde a temporada 1987/88, devido ao caso N’Dinga, que atirou a Briosa para a então II Divisão, Académica e V. Guimarães voltam a olhar-se de frente 18 anos depois, em inegável e surpreendente sinal de aproximação. O encontro de preparaçãode22de Julho, no Luso, entre as duas equipas, é disso prova. Mas em Coimbra a celeuma está instalada e há quem defenda que este jogo não pode ser realizado sem antes haver lugar à oficialização do reatamento das relações entre os dois históricos emblemas.

Não há memória de um simples jogo de treino estar a causar tanta celeuma como aquela que rebentou em Coimbra no final do passado mês. A 30 de Maio, A BOLA anunciou o particular com o V. Guimarães, cuja realização foi, anteontem, confirmada pelo site da Académica. Aparentemente nada de anormal se verifica para uma partida que terá sido patrocinada por Manuel Machado e Norton de Matos. Mas na cidade dos estudantes a memória não é curta e jamais serão esquecidas as consequências do caso N'Dinga, que desde a época 1987/88 tanta tinta fez correr, inquinando, até à marcação deste jogo, as relações institucionais entre os dois clubes. Será este o primeiro passo para o normal reatar de relações? É isso que Coimbra quer saber e que a Direcção ainda não esclareceu. A BOLA tentou recolher ao longo do dia de ontem as opiniões de José Eduardo Simões (presidente), António Preto (chefe do departamento de futebol), Luís Agostinho (director desportivo) e Manuel Machado (treinador) mas os esforços revelaram-se infrutíferos. Ontem, precisamente no dia em que há 18 anos o Conselho de Disciplina da FPF instaurou processo ao V. Guimarães pela alegada irregular utilização de N'Dinga.

Coroa incrédulo

Em Coimbra ainda hoje se apelida o caso N'Dinga como a maior fraude do futebol português. Campos Coroa, antigo presidente, levou-o até às últimas consequências. E ontem, quando confrontado por A BOLA com o agendamento do jogo, teve sérias dificuldades em acreditar... "O quê? Era só o que faltava! Isso não pode ser possível...", foi a primeira reacção. Depois não se deteve: "Isto não é nada contra o presidente do V. Guimarães [Vítor Magalhães], de quem sou muito amigo, nem contra o treinador Norton de Matos, que foi jogador da Académica, mas uma coisa são as relações pessoais e outra as institucionais. E tem de ser clarificado se houve ou não o reatar de relações, pois se não houve isto é uma afronta à memória de Jorge Anjinho e à de todos aqueles que lutaram pela justiça neste caso. Friso que não é nada contra as pessoas ou os dirigentes do V. Guimarães, é antes uma questão institucional. Aliás, lembro que só nove anos depois desse caso, quando a Académica regressou à I Divisão, é que as duas equipas jogaram entre si, mas para o campeonato..."

A AG que não existiu

Em Coimbra, muitos aludem a uma assembleia geral da Briosa que ficou célebre na altura destes acontecimentos por ter determinado o corte de relações entre os dois clubes, pelo que defendem que só em nova reunião magna as mesmas podem ser reatadas. Mas não foi bem assim e na Académica não haverá registos em acta dessa situação. Quase duas décadas depois, Campos Coroa tem presente que «antes da data agendada para essa assembleia geral da Académica, cujo ponto único era deliberar o corte de relações, o V. Guimarães também se decidiu por esse corte». «Como a reunião da Académica era só para esse efeito, nunca se realizou, embora fosse vontade maioritária, como de resto se ouvia em toda a cidade, avançar para esse corte », esclareceu, rematando: «Se querem reatar relações, façam-no, mas só depois disso marquem jogos... amigáveis.»