"Numa altura em que a epistolografia retornara às exigências da matriz Académica – o CAC primeiro, o OAF depois – tanto no modo de expor como na gravidade do conteúdo, também a Secção de Futebol, entretanto refundada, trouxe consigo, indelével, a marca da Academia ligada à prática, exclusivamente amadora, do futebol pelos estudantes universitários.
Daí nasceu a coabitação – OAF (profissional), Secção de Futebol (amador) – que se a alguém parece de vituperar, a mim me parece de louvar.
Acontece, agora, que vem a Secção de Futebol reclamar entrar num novo campo de acção: formação (escolinhas), iniciados, juvenis, etc. exibindo uma desenvoltura de linguagem e motivos que se distanciam da referida coabitação, ao mesmo tempo que revela uma imaginação sem peias de qualquer espécie e materializando-se num discurso que circula por toda uma variedade de registos: desde o sério ao frívolo, de fundamentação jurídica de chancelaria – Direcção Geral e/ou Conselho Desportivo –, do mundo de negócios ditos populares – patrocínios, receitas próprias (escolinhas) –, de sentença grave a picardias com o OAF, do “assunto de Estado” ao assunto de alcova.
Ora, como nenhuma situação se repete, o diálogo com o antigo esgota-se num exercício de comparação. É, no entanto, um exercício fecundo, na medida em que entre a variedade do acontecer e a inconstância dos tempos, permite-nos vislumbrar uma moldura, um conjunto de ligamentos os quais limitam o horizonte da possibilidade da Secção de Futebol readquirir o que, por vontade própria e irreversível, alienou. E foi aí que se inscreveu a coabitação na Academia.
É aí, em suma, que a verdade Académica se começou a dar a conhecer como elemento único em que tudo – a natureza humana e as Instituições – está encerrada, de tal maneira que, se numa determinada altura a qualidade e os costumes dos homens degeneram e os ideais que supostamente os deviam harmonizar e conter se tornam peças de ruptura, distanciamento, confronto, a única saída está, não numa restauração dos tempos passados como pretendem os nostálgicos, ou uma fuga em frente como é o caso, agora, da Secção de Futebol, mas numa repetição do gesto Académico, porque, tal como outrora, «que nada é mais débil e instável quanto a fama da potência na própria força».
Não é, pois, o fim que justifica os meios, conforme pretende uma arreigada e mais ou menos piedosa interpretação que os actuais dirigentes da Secção de Futebol fazem do momento. E não é o OAF, como se julga tantas vezes, uma estratégia feita apenas de empirismo, condenado a encarar a CAUSA Académica na sua camada mais superficial, quase como se ele fosse um tecido sem forro, depois de se lhe retirar o lastro ideológico, por melhor será, depois de escalpelizar e descobrir o lastro ideológico em que está alicerçado.
Como fim, eu quero aduzir que a Académica só tem um símbolo distintivo, o qual, seja em que escalão ou campeonato for, não pode competir entre si publicamente, coisa a que não só nos devemos opor como até sequer facilitar.
Lucílio Carvalheiro
Presidente do Conselho Fiscal da AAC-OAF no triénio 2000/3
Coimbra, 25 de Julho de 2008"